A matéria a seguir foi publicada em Dez de 2008 no site Brasil Combate através do pesquisador Fabio Quio Takao.
Na entrevista, o prof. Mauro Pacífico conta um pouco como começou a Equipe Bushido, uma das maiores geradoras de talentos de São Paulo.
MAURO PACÍFICO – USINA DE TALENTOS
Mauro Pacífico, faixa preta 2º de Jiu Jitsu, é o idealizador da Equipe Bushido e professor em São Carlos interior de SP. Apesar de atuar numa cidade relativamente pequena, Mauro conseguiu formar nomes que hoje são destaque no cenário internacional do Jiu Jitsu.
Um dos maiores fenômenos mundiais no peso leve é Rubens Charles “Cobrinha”. Campeão Mundial de Jiu Jitsu 3x, lutou sem kimono no ADCC e no Japão e recentemente (20 e 21 de Dezembro) venceu na categoria até 70kg o “Capital Challenge” em Amam – Jordânia. Cobrinha cita em todas suas entrevistas a importância de Mauro em sua formação. Atualmente luta pela Equipe Alliance(Romero Jacaré /Fabio Gurgel).
Mauro Pacífico também foi grande incentivador dos irmãos Michael e Michel Langhi. Michael, faixa preta e um dos destaques da Alliance Jiu Jitsu foi Campeão Mundial na faixa azul, roxa, marrom e preta.
Michel Langhi, Irmão mais novo de Michel, compete desde os 14 anos na categoria adulto, por não encontrar adversários a altura. Foi campeão mundial na faixa azul e roxa, categoria leve.
Outro nome importante que iniciou seus treinos com Mauro foi Thiago Silva, fenômeno no MMA. Thiago iniciou seus treinos de Jiu Jitsu com Mauro e fez parte da Macaco Gold Team(Jorge “Macaco” Patino) e atualmente faz parte da American Top Team nos Estados Unidos.
Mauro Pacífico vive exclusivamente para dar aulas de Jiu Jitsu, tendo um estilo altamente técnico baseado no uso de raspagens sofisticadas e ataques que priorizam o giro e a fuga de quadril.
Enquanto muitos professores e atletas sonham somente em abrir uma grande academia em Manhattan, Mauro tem uma preocupação mais nobre. Além de forjar campeões, Mauro desenvolve um trabalho social em São Carlos. Com o apoio de uma empresa local que cede o espaço, Mauro ensina gratuitamente Jiu Jitsu para 50 menores das classes mais baixas.
Apesar de ter uma vida extremamente simples, muitas vezes paga os custos das crianças para que eles possam participar de campeonatos.
Segue uma entrevista com esse grande formador de campeões:
1-Como teve o primeiro contato com o Jiu Jitsu e quando formou a EQUIPE BUSHIDO ?
Meu primeiro contato com o Jiu Jitsu foi através do Mestre Romeu Bertho (aluno de George Gracie) no ano de 1981. Eu tinha 27 anos e treinei com ele até a faixa marron. Depois treinei com o Mestre Otávio de Almeida Filho(também da linhagem de George Gracie)que era presidente da Federação Paulista de Jiu Jitsu. Fui graduado faixa preta em 1994 e comecei a dar aulas. Em pouco tempo formei a Equipe Bushido e dava aulas em São Carlos, Pirassununga, Monte Alto e Taquaritinga.
2-Como você são os treinos da equipe?
Os treinos são focados nas competições e sempre incentivo os alunos a buscar raspagens e finalizações. Sempre fazendo o uso do giro onde é possível defender-se ou entrar com um ataque ou raspagem. No meu treino é proibido puxar pra guarda e fechar o cadeado atrás. Faço treinos alternados onde 2 vezes por semana os alunos treinam no mesmo tempo do campeonato com poucos intervalos. Nos outros dias abordo as técnicas e sempre usando o sistema de circuito, onde cada aluno faz várias repetições do mesmo golpe em diversos oponentes. Isso faz com que ele treine a técnica e ao mesmo tempo explosão e condicionamento físico.
3-Quais são os atletas que mais se destacaram?
Tive diversos alunos que foram campeões estaduais, mas os que mais se destacaram foram o Rubens Charles “Cobrinha’’. Ele já praticava capoeira e iniciou no jiu jitsu comigo. Em pouco tempo reconheci seu enorme talento. Sempre foi muito esforçado, e sempre ficava depois da aula para perguntar mais sobre as técnicas. Em pouco tempo ele foi ganhando campeonatos e passando de faixa até que não tinha mais adversários na região. Ele é um lutador de Jiu Jitsu completo!
O Thiago Silva, que hoje está se destacando no MMA, também começou comigo e treinou durante 4 anos. Um fator que ele sempre se destacou foi sua calma nos campeonatos e obviamente sua excelente guarda. Seu talento pras lutas é nato, visto que também se destaca nas lutas em pé e é um nocauteador perigosíssimo.
Outro atleta que está se destacando é o Michael Langhi e seu irmão Michel Langhi. Ambos começaram na primeira turma de alunos do Cobrinha, mas também freqüentavam minha academia e sempre apoiei a carreira deles.
4-Atualmente, cada vez mais atletas de Jiu Jitsu que competem no MMA (Vale-Tudo) treinam outras modalidades. Você acha que a importância do Jiu Jitu está diminuindo no Vale-Tudo?
De forma nenhuma, pois as lutas mais técnicas ainda são definidas no chão. Mas é claro que no MMA é preciso saber lutar em pé. Porém é muito mais difícil um striker aprender a lutar no chão que um lutador de Jiu Jitsu aprender lutar em pé. Acredito que para se aprender realmente a lutar no chão, o tempo de treino é muito maior, pois o princípio do Jiu Jitsu é o fraco vencer o forte e por isso envolve muitos detalhes técnicos. Na luta de chão o fator sorte conta muito menos, ao contrário de uma luta em pé, onde numa troca franca de socos, o adversário inferior tecnicamente pode acertar um golpe e definir a luta.
5-Você mora numa cidade pequena, porém de sua academia já saíram vários fenômenos, proporcionalmente mais do que São Paulo. Qual o segredo?
Apesar de São Carlos ser uma pequena cidade, temos uma tradição no Jiu Jitsu desde 1959, pois Romeu Bertho foi aluno de George Gracie e desde então vem formando atletas que formaram uma excelente base por aqui. Aqui temos grandes nomes que se formaram com Romeu e depois continuaram a desenvolver o Jiu Jitsu. Nomes como Lírio Carlos de Campos e Fernando Zopellari contribuem para tenhamos aqui treinos de excelente nível. Outro diferencial é que aqui os lutadores de Jiu Jitsu e Judo fazem intercâmbio complementando os treinos das modalidades.
6-Seu estilo é bastante técnico e iniciado com a guarda aberta priorizando as raspagens. Depois do Ground and Pound, ainda é possível um lutador de Vale-Tudo jogar por baixo?
No nível atual que o MMA se encontra não aconselharia nenhum lutador puxar para guarda propositalmente, seja ela aberta ou fechada. Se eventualmente o lutador ficar por baixo, o ideal é dar a “pedalada” e manter a distância e tentar ir pra cima. Caso o oponente tenha uma base muito boa como os wrestlers, manter ele na guarda, mas sempre tentando alguma finalização que não exija pegada no braço, como por exemplo, o triângulo. O próprio arm lock tem-se mostrado a arma mais eficiente quando o lutador está por baixo. Os principais lutadores do mundo como Minotauro e Emilianenko Fedor venceram seus combates mais difíceis usando o arm lock na guarda.
Mauro Pacífico com o seu maior orgulho: o Campeão Rubens Charls "Cobrinha"
7-Fale sobre sues trabalhos na área social.
Eu treino gratuitamente 50 crianças de classes mais baixas a 3 anos. Além de ensinar Jiu Jitsu, cobro o rendimento escolar dos alunos, cuidando para que as crianças não desistam dos estudos. Muitos deles eu mesmo vou buscar. Tenho conseguido com isso excelentes resultados em campeonatos, pois essas crianças estão acostumadas a passar dificuldades e parece que isso as torna mais determinadas. Houve campeonatos onde a Equipe Bushido infantil conseguiu os 3 primeiros lugares. Infelizmente conto somente com o apoio de uma empresa de São Carlos (Tecumseh) que cede o espaço. Seria importante que outros empresários percebessem o benefício desse trabalho e também nos apoiassem.
8-Atualmente, os maiores talentos do MMA e Jiu Jitsu estão mudando- se para os países mais desenvolvidos como EUA e Japão. Voce acredita que esses países deverão ultrapassar o Brasil no MMA e Jiu Jitsu?
Não num futuro próximo. Apesar desse êxodo, o Brasil é o berço do Jiu Jitsu Gracie e do Vale-Tudo(MMA) e ainda temos muitos talentos aqui. É claro que o nível de americanos, europeus e asiáticos deu um salto em pouco tempo, mas ainda temos os atletas mais técnicos do mundo.
9-Quais são os planos futuros?
Aumentar minha atuação na área social. Os alunos carentes são muito determinados e isso me incentiva a continuar com o projeto. O comportamento das crianças tem melhorado muito, segundo os próprios pais. Na Equipe Bushido, pretendo continuar e melhorar os treinos, pois isso é minha paixão e aprendi ao longo da vida que a arte marcial é essencial para saúde física e mental, mas principalmente uma ferramenta poderosa para formação do caráter. Trabalhando com essa dedicação, o surgimento de novos campeões é conseqüência.
